Nas últimas décadas, nós mulheres superamos uma série de barreiras da sociedade. Conquistamos o mercado de trabalho, o direito de permanecer ou não em um relacionamento, o de controlar a reprodução, entre tantos outros. Mas ainda existem muitos resquícios do machismo na nossa cultura. Os mais agressivos, como a violência física, são vistos como condenáveis. Porém outros, como o mansplaining, podem até passar batido apesar do estrago que causam na autoestima.

Mas afinal, o que é esse tal de mansplaining? Mesmo que você não saiba que atitude é essa, provavelmente convive com homens que a praticam em casa, no trabalho, ou mesmo naquele papo descontraído na roda de amigos. Embora nem sempre ele seja identificado, causa um estrago na autoestima de muitas mulheres.

Então, nada melhor que aprender a identificar e reagir de forma apropriada em relação a esse comportamento. Quer saber como? Continue a leitura! 

Hoje vamos entender:

  • O que é mansplaining?
  • Quais são os conceitos por trás do mansplaining?
  • Como o mansplaining afeta as mulheres?
  • Conclusão

O que é mansplaining?

Pense na seguinte situação: você está jantando com seus amigos, em um encontro perfeitamente normal desse grupo. De repente, surge qualquer assunto, como trabalho, política, cultura ou comportamento.

O tópico gera uma discussão em que todos participam. Porém, é fácil perceber que os homens que estão à mesa logo começam a explicar tudo detalhadamente para as mulheres. Aliás, explicam inclusive o óbvio, como se elas fossem incapazes de pensar por conta própria ou ter conhecimento sólido sobre o assunto.

Na cabeça deles, mesmo de forma inconsciente, as mulheres precisam de uma explicação mais clara sobre quase todos os temas. Por outro lado, os homens, além de terem mais conhecimento sobre o assunto, têm também uma capacidade superior para elaborar os conceitos e respostas.

Nos casos mais extremos, eles chegam a nos explicar até mesmo os temas que se referem ao nosso universo. Eles se tornaram experts em definir o que é machismo e o que não é. Exemplo: quando uma conduta pode ser considerada assédio ou não, ou mesmo quando a garota é “culpada” pelo assédio, seja pelas roupas que usa ou por seu comportamento.

Portanto, o mansplaining é uma palavra de origem inglesa e derivada de outras duas: man (homem) + explaining (explicação). Ela define o ato de uma pessoa do sexo masculino sempre acreditar, mesmo de forma inconsciente, que precisa explicar tudo para as mulheres. Para eles, certo tema não faz parte do conhecimento delas e as mesmas não conseguem chegar a uma conclusão por conta própria.

Quais são os conceitos por trás do mansplaining?

Antes de achar que a reprovação desse tipo de comportamento não passa de “mimimi”, é importante observar que ele parte de alguns conceitos muito errados em relação à mulher. Veja quais são:

A ideia de que a mulher é intelectualmente inferior

Essa ideia costuma ser inconsciente, porém fica clara nas atitudes do homem. Se ele sente que as mulheres sempre precisam dessas explicações, é porque acredita que elas não têm o mesmo nível de conhecimento que ele.

Não se trata de um conjunto de informações definidas, como quando um especialista fala com um leigo. Se um médico conversa sobre temas relacionados à saúde com uma pessoa que não tem conhecimento em Medicina, por exemplo. É natural que em algum momento ele explique algo que conhece profundamente, já que essa é sua área de estudo.

O mesmo acontece se um contador estiver conversando sobre processos para a abertura de uma empresa com uma pessoa leiga. Sempre haverá conhecimentos que o especialista possui, devido à sua formação e experiência, que o público em geral não tem.

Contudo, não é isso que acontece com o mansplaining. Nesse caso, mesmo que o homem não seja especialista e aquele seja um tema de domínio comum, ele sempre tenderá a achar que as mulheres não têm o mesmo nível de conhecimento que seus companheiros do sexo masculino.

Inclusive, é frequente acontecer o contrário: um homem leigo tenta explicar a uma mulher como ela deve fazer o trabalho em que ela é especializada. Existem médicas, advogadas, educadoras, administradoras que passam por isso todos os dias. Alguém do sexo masculino e sem experiência naquela profissão tenta ensiná-las o que devem fazer. Acredita?

Portanto, é uma atitude totalmente sexista por achar que uma mulher não tem interesse ou capacidade para compreender um assunto de domínio geral ou até mesmo os conhecimentos de sua área de atuação.

A ideia de que a mulher precisa dessa atitude protecionista

O homem que pratica mansplaining normalmente nem percebe que sua atitude está errada. Ainda assim, se alguém comenta que a postura dele é desagradável, além de surpreso, ele possivelmente vai dizer que só estava tentando ajudar.

Essa é uma atitude paternalista, que infantiliza a mulher e a coloca em uma posição de inferioridade. Afinal, quando se tratam de pessoas adultas e com as mesmas condições, qualquer ajuda sempre acontece em uma relação de parceria, em que se reconhecem as capacidades mútuas e ocorrem trocas que os dois são beneficiados.

A ideia de que existem temas que não são do interesse das mulheres

Em algumas situações, o homem não se atreve a explicar para as mulheres alguns temas que eles atribuem, quase que exclusivamente, ao universo feminino. Por isso, talvez eles não tenham esse tipo de atitude quando se fala de culinária, de programas de televisão ou cuidados com a casa.

Entretanto, sempre que a mulher se “atreve” a sair desse círculo limitado de opções, ela pode se preparar para o embate. Eles consideram que seu domínio sobre praticamente qualquer outro tema — atualidade, artes, política, esportes, mercado de trabalho, economia — é superior ao delas, mesmo que não admitam isso conscientemente.

Ou seja, em sua mente, eles separam todos os assuntos em duas categorias: os femininos e os masculinos. Para elas, sobram alguns temas do lar, enquanto os homens são os melhores em tudo o que eles consideram relevante.

É como se voltássemos à Antiga Grécia, onde as mulheres eram obrigadas a circular apenas em algumas áreas da casa — o gineceu, que era composto pela cozinha e os quartos da família, separadas dos homens. Porém, agora a segregação é intelectual, e o “Clube da Luluzinha” domina outros temas que hoje em dia são de interesse de qualquer cidadão, e não apenas da ala masculina, não é?

Como o mansplaining afeta as mulheres?

Embora muitas mulheres não tenham consciência desse comportamento, elas são afetadas por ele no dia a dia. O impacto sobre a autoestima também é considerável, gerando uma grande insegurança e sensação de inferioridade. Veja algumas das consequências:

Desvalorização no ambiente de trabalho

O ambiente de trabalho é um local onde o mansplaining acontece com muita frequência. Mesmo quando uma mulher tem uma formação impecável e uma grande experiência, não é difícil que ela encontre homens que acham que sabem mais do que ela sobre o próprio trabalho, e fazem questão de deixar isso claro por explicações.

Ou seja, a mulher tende a se sentir desvalorizada. Se não entender que o problema não é ela, mas o comportamento do homem, com o tempo passa a acreditar que seu conhecimento, qualidades e competências não são suficientes para assegurar seu espaço.

Desvalorização no ambiente doméstico

Em casa a mulher também pode sofrer as consequências do mansplaining. Não é incomum o parceiro usar seu “conhecimento” e “capacidade de pensamento” para explicar a parceira algumas coisas. Por exemplo, como ela deve se sentir e se comportar em relação ao próprio corpo, aos seus sentimentos e, acredite, até mesmo desejos sexuais.

Com a repetição dessas ideias, algumas mulheres passam a duvidar do próprio discernimento e a acreditarem nesses parceiros. O conflito interno se acentua, gerando uma grande infelicidade. A relação pode se tornar abusiva e a mulher se sente culpada por falar de seus sentimentos ou até mesmo por senti-los. É importante ficar em alerta quanto a esse tipo de relacionamento para não cair nessa armadilha!

Tentativa de indução do comportamento

Como se não bastasse o homem explicar o óbvio, muitas vezes ele faz isso na tentativa de induzir uma mudança de comportamento na mulher. Ele pode dar uma aula sobre como ela deve educar os próprios filhos, por exemplo, realizar seu trabalho, se vestir para evitar assédio e até mesmo o que comer ou beber.

Quer um exemplo? Vamos voltar ao jantar com os amigos. Você adora vinhos, conhece vários e escolhe uma das opções oferecidas pelo restaurante. Imediatamente, um de seus amigos explica que aquele vinho tem o sabor muito forte, que não agrada as mulheres. Por isso, segundo ele, seria melhor você pedir um outro ou mesmo um suco, né? Afinal, nem sempre pega bem mulher beber álcool! 

Tendência a calar a voz feminina

Mulheres que cresceram com esse mansplaining podem achar que realmente elas não sabem tanto quanto eles. Aos poucos, mesmo sem perceberem o que está acontecendo, chegam à conclusão de que o melhor que podem fazer é se calar ou se restringir aos assuntos “femininos” e sem importância.

Diante dessa situação, muitas mulheres têm seu amor próprio abalado. Mesmo quando tentam se expressar, tem alguém ali para lembrá-las de que sua visão é equivocada ou, no mínimo, superficial. Assim, elas sentem que o mundo não pertence a elas e que não adianta buscar seu espaço ou manifestar suas vozes.

Conclusão

O mansplaining é uma atitude que precisa ser combatida com muita conscientização. Uma boa conversa é uma forma de mostrar aos homens que temos nossa posição e espaço, e não estamos mais dispostas a cedê-los para uma conduta que, mesmo que não seja mal-intencionada, é baseada em uma visão machista e equivocada de mundo.

Devemos esta luta não só a nós mesmas, que batalhamos tanto para conquistar nosso espaço. Esse é mais um legado que deixaremos para as futuras gerações de mulheres nesse longo caminho que ainda precisamos percorrer para chegar à verdadeira igualdade!

E então, já conhecia o conceito de mansplaining? Percebe como ele é frequente não só no ambiente de trabalho, mas também entre amigos e no convívio familiar? Quer saber quando um homem extrapola os limites e chega a impor um relacionamento abusivo? Continue no blog, confira o post e saiba a resposta!

Beijo!

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.

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