Hoje vamos tratar de um tema um pouco polêmico, mas que precisa ser discutido: sexo x religião. Para muitas pessoas, o sexo é algo natural do ser humano e muitos o consideram uma necessidade fisiológica. Quem não gosta de uma boa relação sexual? De sentir um orgasmo que te leva nas alturas?! No entanto, para um grande grupo, que cresceu sobre regras rígidas e severas de uma religião, a culpa por estar fazendo algo errado impede de sentir prazer e desfrutar de uma relação sexual plena. A questão que eu trago é: como alinhar a crença em uma religião e ter uma vida saudável? Leia até o final que eu te mostro mais sobre sexo x religião.

No texto de hoje vamos falar sobre:

  • Sexo sem fé?
  • Cientistas e religião
  • Contexto familiar
  • Sexo x repressão
  • Culpa
  • Religião = Repressão?
  • Tabus
  • Cultura x sexo x religião
  • Como isso afeta a vida sexual na prática
  • Diálogo
  • Mudanças aos poucos
  • Concluindo: sexo x religião

Sexo sem fé?

Um estudo polêmico realizado pelo psicólogo social americano Darrell Ray (nascido em Kansas em 1950), chamado Sex and Secularism, afirma que as relações sexuais dos crentes são menos satisfatórias do que as das pessoas que se consideram ateus ou agnósticas.

Ele começou a pesquisa a partir de suas próprias experiências pessoais; foi criado em uma família cristã intimamente relacionada à igreja e comparou as entrevistas com 14.500 pessoas entre 25 e 30 anos.

Os resultados foram evidentes: 80% dos entrevistados com convicções religiosas se sentiam mal após o sexo. Entre os ateus, apenas 26%. Esse sentimento de culpa, no entanto, não é suficiente para não fazer sexo. Eles apenas se sentem mal com o ato, de acordo com o autor do estudo. O que acontece é que, depois de realizar os atos sexuais “impuros”, os religiosos pediam a Deus perdão pelo pecado cometido.

Crítica ao estudo

O estudo sofreu críticas severas no meio científico devido a supostos preconceitos ideológicos e seu caráter simplista e reducionista, bem como a metodologia utilizada para coletar os dados (questionários enviados por e-mail).  No entanto, os dados refletem uma realidade que parece evidente atualmente. Embora pareça evoluir para uma sociedade menos religiosa, não há dúvida de que ela foi influenciada pela religião no desempenho de certos comportamentos, não só do sexual.

Cientistas e religião

Um outro estudo recente, realizado por pesquisadores da Universidade de Utah (EUA), procura descobrir o que acontece nas mentes dos mais devotos quando eles têm experiências espirituais profundas. A equipe, liderada pelo Dr. Jeffrey Anderson, descobriu que ter uma experiência religiosa ou espiritual ativa os “sistemas de recompensa” do cérebro da mesma forma que amor, sexo, jogos de azar, drogas ou música.

Para esse experimento, 19 mórmons foram submetidos à ressonância magnética ao realizar atividades espirituais, como ler escrituras, assistir a vídeos, rezar e descansar em silêncio. O objetivo era simular um culto e evocar uma experiência religiosa. “Muitos dos participantes acabaram com lágrimas” no final do experimento, Anderson disse à ResearchGate. “Apesar da importância dessas experiências para as pessoas, não sabemos quase nada sobre como o cérebro participa delas”, reconheceu.

O pesquisador acrescentou que os resultados desse estudo podem ajudar a explicar o apego aos líderes e ideais religiosos: “Pode ser que uma mulher luterana nos EUA e um seguidor do Estado islâmico na Síria experimente os mesmos sentimentos nas mesmas regiões do cérebro, mesmo que tenham crenças completamente diferentes “.

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Contexto familiar

Aprender sobre o sexo começa por osmose, no seio da nossa família. A criança absorve tudo o que vem de seus pais, o que eles dizem, seus gestos, comportamentos, atitudes e reações, assim como o seu olhar sobre o sexo. Esses ensinamentos e princípios são, em grande medida, decorrentes de suas crenças culturais e  religiosas.

Em um ambiente saudável, o envolvimento da família com a religião tem resultados positivos, resultando em uma visão tolerante, flexível e amorosa da sexualidade humana.

Sexo x repressão

No entanto, há pessoas que vêm de famílias com uma religiosidade muito rígida, incorporada aos pais com uma visão moral e sexual muito restritiva. Não é incomum que essas pessoas vejam o sexo como algo impuro, mau e perigoso. Para elas, o sexo deve ficar nos limites estritamente estipulados: casamento e/ou procriação. Em alguns casos mais severos, é estipulado que uma pessoa religiosa não deve desfrutar do sexo, que deve somente procriar.

Culpa

Para algumas pessoas religiosas, os pensamentos e atividades sexuais que se desviam dos limites descritos no tópico anterior são pecaminosos e podem ser punidos. “Sucumbir ao pecado” gera culpa, medo e ansiedade. Isso acaba virando um círculo vicioso. Para piorar, não desaparece após o casamento. Especialmente nos casos mais extremos ou envolvendo pessoas muito sensíveis, dependentes, inseguras ou especialmente culpadas.

Religião = repressão?

A religião não é sinônimo de repressão, muito pelo contrário. Santo Agostinho já dizia: “Ame e faça o que quiser”. No entanto, o fator religioso é frequentemente apontado pelos próprios pacientes como causa de determinadas disfunções sexuais, geralmente herdeiros de uma moral prejudicada e distorcida.

Isto é, sem dúvida, um mal-entendido. As crenças religiosas em si não precisam interferir com a satisfação sexual. De fato, o que constitui um obstáculo para uma vida sexual saudável e alegre não é uma doutrina concreta – como a convicção de que a abstinência sexual é importante até o casamento -, mas sim a forma como alguns grupos religiosos imputaram seu fanatismo sobre esses valores. Com mensagens negativas, cheias de mitos e erros, confundem e assustam muitas pessoas.

sexo x religião

Tabus

Como em algumas religiões o sexo é visto apenas como uma forma de procriação, há uma rejeição a coisas simples como a masturbação. Isso faz com que a mulher não conheça o próprio corpo, desconhecendo o que lhe dá prazer.  Outro tema polêmico é a homossexualidade. Em algumas religiões, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo é inaceitável.

Essa maneira de pensar sobre a sexualidade leva algumas pessoas a sentirem como se estivessem fazendo algo errado; elas se sentem culpadas ou pensam que estão pecando quando fazem sexo. Elas sentem uma repressão que afeta muito negativamente o modo de viver a sua sexualidade.

Cultura x sexo x religião

A forma como o sexo é visto depende muito da cultura e dos costumes dos povos. Algumas religiões diferenciam atividades sexuais praticadas para a reprodução biológica (algumas vezes são permitidas somente no estado civil formal), praticadas somente em uma certa idade (idade do consentimento) e outras atividades praticadas para o prazer sexual imoral. O que é pecado para um cristão, por exemplo, pode ser considerado normal para um praticante do islamismo.

Carne vs espírito

É inegável que uma tradição de séculos colocou o corpo, seus impulsos e desejos – especialmente os sexuais – como fonte de inumeráveis males e sofrimentos. A “carne” é inimiga do “espírito”, despojado de atributos divinos, tornou-se o ser humano mais baixo. Fonte de fraquezas de distração do essencial. Apesar de parecer um pensamento ultrapassado, ele  ainda habita em muitos de nós de forma inconsciente e cabe a cada uma de nós nos despojarmos desse tipo de ideais.

Como isso afeta a vida sexual na prática

Muitas mulheres que tiveram uma orientação religiosa são ensinadas, desde cedo, a praticar a abstinência antes do casamento. Algumas nem ao menos falam sobre métodos de controle de natalidade, já que acreditam serem desnecessários. Toda prática sexual antes do sacramento do casamento é considerada um pecado.

No tempo de hoje, com tanta tentação e informação em mãos, é muito difícil seguir as lições recebidas e muitas mulheres decidem explorar outras alternativas para a vida sexual. Com o despertar hormonal e quando se relaciona com outro, começa a despertar o desejo sexual, a atração química e o desejo de experimentar.

É aí que ocorre o grande conflito moral, espiritual, religioso, com a intenção de iniciar a vida sexual. Muitas delas vivem sua sexualidade com culpa, com pensamentos pecaminosos, com incapacidade de sentir prazer, com muita modéstia, produzindo em muitas ocasiões disfunções sexuais, tais como:

  • anorgasmia (dificuldade ou ausência de poder experimentar um orgasmo);
  • dificuldade em excitação e lubrificação;
  • falta de desejo sexual;
  • dor ou incapacidade de realizar relações sexuais.

A mulher, sentindo-se culpada e pecadora diante de um encontro sexual, não consegue libertar-se desses pensamentos, ela sempre estará monitorando-se, sentindo-se avaliada, julgada e observada por seus pais e guias espirituais e não poderá liberar controle, viver o momento presente e aproveitar da sua sexualidade.

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Diálogo sobre sexo x religião

Para que haja lubrificação e excitação, uma resposta sexual deve ser produzida em nosso corpo como um efeito da interação de jogos sexuais. No entanto, isso pode não ocorrer se nos desconectarmos de nossas sensações e do que estamos experimentando, e se os nossos pensamentos e as culpas nos distraírem.

Dada essa estreita relação entre religião e sexualidade, é muito importante estar informada e ousar perguntar e esclarecer dúvidas para tornar compatível qualquer opção religiosa com uma sexualidade saudável e agradável. Caso os sentimentos negativos estiverem te impedindo de ter uma vida sexual completa, procure um médico.

Mudanças aos poucos…

Aos poucos, essa visão do sexo como algo impuro está mudando. Na religião católica, o papa Francisco e o padre Fábio de Melo são exemplos de que a Igreja pode abrir um diálogo saudável sobre o assunto. Para os evangélicos, o pastor Cláudio Duarte é um exemplo de que é possível abordar esse dilema sexo x religião de forma bem humorada.

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Concluindo sobre sexo x religião

Não devemos esquecer de que somos seres sexuais e que a sexualidade é algo natural, inerente à natureza humana. É uma necessidade fisiológica que devemos satisfazer de forma plenamente saudável, seguindo as orientações de saúde sexual adequadas e evitando riscos desnecessários.

A sexualidade é algo natural, algo biológico que não deve conter conotações ruins, justamente o contrário. Não há nada pecaminoso no fato de  ter relações sexuais livre, responsável e consensual com nosso parceiro sexual. Se colocarmos isso na cabeça, podemos apreciar o sexo de forma plena, sem culpa ou medos.

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Super beijo!

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.

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