A cada 7.2 segundos uma mulher é vítima de violência física no Brasil, de acordo com o Relógio da Violência do Instituto Maria da Penha. Na maior parte das vezes, essa violência contra mulher acontece dentro de casa e os agressores são os próprios maridos e companheiros. Às vezes, familiares e vizinhos têm consciência do que acontece, mas não fazem nada porque, como diz o ditado, “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”; e a violência continua. Com o objetivo de quebrar esse padrão de impunidade, um grupo de mulheres criou o aplicativo chamado “Mete a Colher” para incentivar a denúncia de violência doméstica. Vem comigo saber um pouco mais dessa ótima novidade!

violência contra mulher

No texto de hoje vamos falar sobre

  • As criadoras do projeto
  • Como o aplicativo funciona?
  • Como usar
  • Por que o nome mete a colher?
  • Violência contra mulher em números
  • Violência contra mulher e a Lei Maria da Penha
  • Tipos de violência
  • Ciclos de violência
  • Quebrando o ciclo de violência doméstica

As criadoras do projeto

O “Mete a Colher” é uma rede de apoio que ajuda mulheres a saírem de relacionamentos abusivos e enfrentar a violência contra mulher. O projeto foi criado em março de 2016, em Recife, por cinco jovens mulheres. Através de uma página no Facebook, as voluntárias se reúnem para ajudar  as mulheres que passam por situações de violência e risco. As vítimas de relacionamentos abusivos têm acesso à atendimentos jurídico e psicológico, além de oportunidade de conversar com outras pessoas que passam por situação semelhante. Para viabilizar o aplicativo, elas recorreram ao financiamento coletivo.

Como o aplicativo funciona?

O Mete a Colher é baseado em conversas, com uma lógica parecida com Whatsapp e o Facebook Messenger. Apenas mulheres vão fazer parte da rede. Para acessar o aplicativo será necessário o cadastro através do perfil do Facebook das usuárias. Para manter a segurança de todas, além do login via Facebook, haverá também a opção de ter um código PIN para acesso ao app e mensagens criptografadas que se apagam depois de um tempo, deixando quase impossível o acesso de terceiros às conversas.

Como usar o aplicativo?

Após baixar o aplicativo “Mete a Colher”, é necessário fazer uma cadastro, mas a usuária pode decidir se vai utilizar de modo anônimo. Entre as opções estão “Preciso de ajuda” e “Quero ajudar”. Ao escolher uma das opções o app cruza os dados. A vítima pode escolher o tipo de ajuda que precisar; o app indica quem pode fornecer essa ajuda e aquela que está mais próxima para auxiliar. Se for um caso de agressão em tempo real, quem está perto receberá uma alerta e poderá pedir ajuda da polícia.

A usuária que entrar no app para ajudar poderá marcar as categorias em que quer oferecer ajuda: apoio psicológico, ajuda jurídica ou inserção no mercado de trabalho. Nessa última categoria, algumas empresas vão poder se cadastrar também. Todas as ajudas terão a conversa como forma de interação.

Atualmente o aplicativo só está disponível para Android, mas brevemente será disponibilizado para IOS.

Por que o nome “Mete a colher”?

As criadoras explicam que a questão de “meter a colher”  se refere às muitas mulheres que têm medo, vergonha, ficam fragilizadas em denunciar ou falar que sofrem algum tipo de violência doméstica. Quem está próximo também não quer se envolver nos problemas alheios. O app quer solucionar isso, criar uma rede de mulheres que precisam de ajuda e mulheres que estão dispostas a ajudar.

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Violência contra mulher em números

Ações como o aplicativo Mete a Colher são cada vez mais necessárias diante do contexto em que vivemos, de aumento da violência contra mulher. De acordo com o Mapa da Violência 2015: Homicídio de Mulheres no Brasil – dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013 no país, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% desses casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Essas quase 5 mil mortes representam 13 homicídios femininos diários em 2013.

O Mapa da Violência 2015 revela ainda que, entre 1980 e 2013, 106.093 brasileiras foram vítimas de assassinato. De 2003 a 2013, o número de vítimas do sexo feminino cresceu de 3.937 para 4.762, ou seja, mais de 21% na década.

Violência contra mulher e a Lei Maria da Penha

A violência doméstica e familiar contra a mulher passou a ser considerada crime a partir da aprovação da lei n. 11.340, em 7 de agosto de 2006, que ficou conhecida como “Lei Maria da Penha”. Essalei cria mecanismos para coibir e prevenir a agressão ambientada na convivência familiar e se tornou um instrumento de transformação social ao longo dos seus 11 anos de existência.

A Lei Maria da Penha define violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.

A lei introduziu ainda uma ferramenta importante que possibilita a intervenção do Estado em uma situação de violência de modo quase imediato, na busca de proteger a vida da mulher: as chamadas medidas protetivas de urgência.

Tipos de violência

Na Lei Maria da Penha estão tipificadas a violência física e psicológica, além da violência moral, sexual e patrimonial. Essas formas de agressão são complexas, perversas, não ocorrem isoladas umas das outras e têm graves consequências para a mulher. Qualquer uma delas constitui ato de violação dos direitos humanos e deve ser denunciada.

Violência física

Qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da mulher.

Ex: espancamento, atirar objetos, sacudir e apertar os braços, estrangulamento ou sufocamento, lesões com objetos cortantes ou perfurantes, ferimentos causados por queimaduras ou armas de fogo, tortura.

Violência psicológica

Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima; prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento da mulher ou vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões.

Ex: ameaças, perseguição contumaz, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento (proibir de sair de casa, de estudar e viajar ou de falar com amigos e parentes), vigilância constante, insultos, chantagem, exploração, limitação do direito de ir e vir, ridicularização, tirar a liberdade de crença).

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Violência sexual

Qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.

Ex:estupro, obrigar a mulher a fazer atos sexuais que causam desconforto ou repulsa (fetiches), impedir o uso de métodos contraceptivos ou forçar a mulher a abortar, forçar matrimônio, gravidez ou prostituição por meio de coação, chantagem, suborno ou manipulação, limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

Violência patrimonial

Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

Ex: furto, extorsão ou dano, controlar o dinheiro, deixar de pagar pensão alimentícia, destruição de documentos pessoais, estelionato, privar de bens, valores ou recursos econômicos, causar danos de propósito a objetos damulher ou dos quais ela goste.

Violência moral

Qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Ex: tentar manchar a reputação da mulher, emitir juízos morais sobre a conduta, fazer críticas mentirosas, expor a vida íntima, distorcer e omitir fatos para deixar a mulher em dúvida sobre a sua memória e sanidade, rebaixar a mulher por meio de xingamentos que incidem sobre a sua índole.

Ciclos de violência

Em 1984,  o psicólogo norte-americano E. Walker, explicou que a violência doméstica geralmente acontece da mesma forma,  em ciclos repetitivos e contínuos de padrões de comportamento violento. O chamado Ciclo da Violência Doméstica apresenta, na maior parte das vezes, três fases:

Aumento de Tensão

O ciclo começa com um estágio de tensão crescente. O homem está cada vez mais bravo com a mulher sem motivo aparente e aumenta a violência verbal.

Explosão

A situação explode sob a forma de agressões físicas, psicológicas e/ou sexuais.

Lua de Mel

O agressor pede desculpas à mulher, diz-lhe que lamenta muito e que isso não vai acontecer novamente. Ele usa estratégias de manipulação afetiva para tentar evitar que o relacionamento se rompa, como dar seus presentes, convidá-la para jantar ou ir ao cinema, fazer promessas, ser afetuoso, etc.. Muitas vezes a mulher acredita que o agressor realmente quer mudar e por isso o perdoa. No entanto, ele não muda e, depois de um tempo, volta para o estágio.

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Quebrando o ciclo de violência doméstica

Para diminuir os casos de violência contra mulher, é preciso de mais iniciativas como a do aplicativo Mete a Colher. As vítimas de violência precisam de ajuda, apoio e compreensão para quebrarem o ciclo e refazerem suas vidas. Se você sofre de violência doméstica ou conhece alguém que está passando por esse problema, denuncie. Não fique calada e não deixe o agressor ficar impune. É preciso realmente meter a colher e ajudar mais mulheres a se libertarem de um relacionamento abusivo.Faça a sua parte!

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Super beijo!

Texto de Cátia Damasceno

Cátia Damasceno é Fisioterapeuta especializada em uroginecologia, coach, palestrante e idealizadora do Programa Mulheres Bem Resolvidas.

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