É normal gostar de sexo — dificilmente você vai conhecer alguém que não curta. Mesmo quem nunca praticou pensa bastante no assunto.
Afinal, é algo normal, saudável e até estimulado pela sociedade.
Entretanto, quando começa a atrapalhar sua rotina, até mesmo a colocar seu trabalho e vida em risco, pode se tornar um problema sério: a satiríase.
A satiríase é mais que o pensamento; é a vontade tomando o controle da sua vida. Quem passa por essa condição acaba se colocando em diversas situações de risco, inclusive de vida, e pode até arriscar a saúde de outras pessoas.
Neste post, você vai entender:
- O que é satiríase;
- Quando o pensamento em sexo vira um problema;
- Se assédio é uma consequência da satiríase;
- O que fazer para solucioná-lo.
Vamos lá?
O que é satiríase?
É a compulsão masculina por sexo — para as mulheres, o transtorno tem o nome de ninfomania. Ambas derivam da mitologia grega (“sathê” = “pênis”).
Aliás, os sátiros eram seres com metade do corpo humano e metade bode, além de chifres. Viviam nos campos e bosques e tinham uma sexualidade bastante exacerbada, principalmente com as ninfas.
Portanto, a satiríase é uma compulsão sexual em que o homem não consegue controlar seus impulsos sexuais.
Com isso, acaba tendo transtornos tanto na vida pessoal quanto na profissional. O indivíduo acaba cedendo a seus impulsos, querendo e fazendo sexo a qualquer momento, sem critério.
Muitas vezes o homem não percebe que isso é um problema, até porque somos estimulados a pensar que o indivíduo do sexo masculino pensa em sexo o tempo todo.
Afinal, quantas vezes você ouviu o termo “satiríase”? Já a “ninfomania” é algo popular. Uma mulher gostar de sexo, principalmente além do saudável, é algo considerado fora da curva.
Como saber que a vontade sexual virou um problema?
O desejo sexual se torna satiríase quando o indivíduo perde o controle sobre ele.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica o problema, tanto o masculino quanto o feminino, como comportamento sexual compulsivo, listado pela Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde como um distúrbio de saúde mental.
Antes, havia quem rejeitasse a natureza patológica do problema, enquanto outros tratavam como um transtorno compulsivo comum.
Por exemplo, nos Estados Unidos, a Associação Americana de Educadores, Conselheiros e Terapeutas Sexuais entendem que o comportamento sexual, pode sim, influenciar a saúde ou o psicológico do indivíduo. E os profissionais devem tomar cuidado para não tratar como patologia comportamentos sexuais consensuais.
Outros estudos
No entanto, desde 2013, muitos estudiosos de outras áreas contribuíram para diagnosticá-la como um distúrbio mental.
Em Is your patient suffering from compulsive sexual behavior? (1992), Eli Coleman caracteriza 5 tipos de apetite sexual excessivo:
- Sexo compulsivo e múltiplos parceiros;
- Fixação compulsiva na obtenção de um parceiro inatingível;
- Masturbação compulsiva, mesmo sem vontade ou com dor;
- Compulsão por múltiplos relacionamentos afetivos;
- Sexo compulsivo com um único parceiro.
No mesmo estudo, Coleman afirmou que cerca de 5% da população sofre de impulso sexual excessivo, sendo maior em homens, que formam 80% dos casos.
Embora essa prevalência seja maior que a esperada, segundo estatísticas americanas, ela poderia crescer ainda mais se não fosse pelas implicações morais, como embaraço, vergonha e sigilo dos envolvidos.
Olha, há várias causas para a satiríase. Ela vem, principalmente, para preencher um vazio de afeto, mas também pela falta de autoestima, por quem foi vítima de abusos quando criança ou jovem. Há também especialistas que enxergam o problema como transtorno obsessivo-compulsivo.
Veja algumas motivações para a satiríase:
- Preenchimento de vazio, principalmente de afeto;
- Falta de autoestima vinculada à carência;
- Impotência diante de uma situação drástica, como a perda de um emprego ou de um ente querido;
- Falta de limites ou de respeito entre pais e filhos durante a educação parental. O indivíduo acaba adquirindo insensibilidade e procura no sexo o afeto que não teve durante a infância;
- Ainda durante a infância, o convívio com pessoas com compulsão sexual e exposição a seus atos como algo comum. O indivíduo começa a erotizar tudo e a repetir o comportamento como um padrão;
- Abuso sexual durante a infância, que faz com que o indivíduo se exponha a situações de risco.
E mais…
Uma questão que levava a dúvida sobre a satiríase ser ou não um distúrbio mental é o fato de muitos pacientes com sintomas de compulsão sexual não apresentarem nenhuma evidência visível de outra disfunção neuropsiquiátrica.
Dessa forma, se ele não apresenta nenhum problema além da atividade sexual numericamente incomum, estaria correto pensar que ele tem uma patologia?
Não seria mais correto classificar como uma questão ética ou simplesmente pessoal?
Olha, o problema vem quando o sexo deixa de ser um prazer e passa a trazer dor, a atrapalhar suas atividades diárias, a atrapalhar diversos aspectos da vida de um indivíduo, a ser uma obsessão que precisa ser conquistada e saciada (mas nunca é), assim como um vício em drogas, jogo ou álcool faz.
Tanto que o diagnóstico envolve a qualidade (e não a quantidade) das relações sexuais, além da sensação do indivíduo de que perdeu o controle sobre suas vontades.
Porém, o cunho moral torna o problema menos aceito na sociedade. Os dias do homem com satiríase (e da mulher com ninfomania) passam a ser apenas para planejar como conseguir sexo e, enquanto não faz, imaginá-lo.
Com toda a certeza, com o passar do tempo, a quantidade (uma vez ao dia, por exemplo) passa a ser insuficiente, fazendo com que ele procure por mais sexo e por pessoas diferentes para sentir o alívio emocional.
Com isso, o comportamento sai do controle, e ele se expõe a situações perigosas e até vexatórias. A frequência, extensão e duração do sexo também excedem ao desejado.
Além dos problemas de comportamento
Além de problemas de relacionamento (já que a pessoa exige demais do parceiro ou o trai com frequência) e profissionais, as chances de que o indivíduo com satiríase seja contaminado por uma doença sexualmente transmissível (DST) é muito maior! Ou pior: ele provavelmente vai passar a DST.
É também comum que o indivíduo se culpe e se deprecie pela falta de controle.
No entanto, muitas vezes ele não considera uma relação extraconjugal uma traição, apenas uma forma de se saciar.
Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 3a. edição revisada (DSM-III-R), os 4 principais critérios para diagnosticar transtornos hipersexuais são:
- A existência de fantasias sexualmente excitantes recorrentes e intensas, impulsos ou comportamentos sexuais que persistam durante um período de pelo menos seis meses e se encaixem na definição de parafilias;
- As fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais causam desconforto ou comprometimento clinicamente significativo na área social, ocupacional ou em outras importantes;
- Os sintomas não encontram causa em outros transtornos, como no episódio maníaco;
- Os sintomas não se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (drogas, álcool ou cigarro) ou à afecção clínica geral.
Assédio sexual é decorrência de uma satiríase?
Não! Primeiramente, assédio e compulsão sexual são assuntos diferentes.
Nem todo indivíduo com satiríase é abusador e vice-versa. Mas as duas condições podem coexistir em uma mesma pessoa. O assédio é uma relação de poder, em que o assediador que mostrar o domínio (financeiro, psicológico ou social) sobre a vítima.
Já o indivíduo com satiríase costuma se relacionar consensualmente, mas também pode cometer (ou sofrer) abusos. Enquanto isso, o estupro é uma violência seríssima e injustificável, que também tem a ver com dominância. Portanto, não se enquadra como distúrbio, e sim como crime!
Enfim, o que fazer para tratar a satiríase?
O indivíduo com satiríase apresenta comportamentos compulsivos, obsessivos e impulsivos, viu? Por isso, seu tratamento é similar ao de outros tipos de dependências.
Para casos leves, apenas a psicoterapia pode resolver; já para os mais graves, a complementação com medicamentos é o tratamento mais indicado.
Segundo Marco Scanavino, coordenador do Ambulatório de Impulso Sexual Excessivo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, 70% dos pacientes com satiríase também apresentam ansiedade e depressão.
Portanto, o mais indicado é o tratamento com medicamentos antidepressivos inibidores de serotonina. Nesse caso, o tratamento psicoterápico é indispensável, independentemente da gravidade do caso.
A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, auxilia o indivíduo a controlar seus impulsos e a manter relações sexuais saudáveis sem, necessariamente, diminuir sua frequência (isso, é claro, depende da quantidade de vezes que ele transa por dia).
O objetivo do tratamento, seja ele qual for, não é levar o indivíduo à abstinência, mas sim à prática prazerosa, controlada e sadia!
Conclusão
Como você viu, pensar em sexo é algo saudável e normal – uma pessoa saudável pensa várias vezes ao dia.
No entanto, quando o pensamento se torna uma obsessão, a ponto de você não conseguir se ligar em qualquer outra coisa, é hora de procurar ajuda especializada.
A satiríase não se contenta apenas com o pensamento: ela vai forçar o indivíduo a satisfazer sua vontade sexual.
No começo uma relação ou masturbação será suficiente. Mas com o passar do tempo, nada conseguirá satisfazê-lo!
Se você passa por esse problema e vê suas relações pessoais e profissionais ruírem, procure por ajuda psicológica ou psiquiátrica!
Um profissional conseguirá identificar qual será o melhor tratamento, além de adequá-lo conforme o resultado positivo ou negativo.
Além disso, é hora de não se acanhar com a terapia, ok? Em grupo ou individual, ela será crucial para descobrir qual o fator que despertou essa obsessão por sexo.
Quando você descobre esse ponto-chave, fica menos difícil avançar no seu tratamento!
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Beijo!