Muitas mulheres não querem ter filhos e, mesmo assim, não deixam de ter uma vida sexualmente ativa.
A princípio, cada anticoncepcional tem seus contras: a pílula hormonal é contraindicada para quem tem histórico de doenças vasculares e trombofilia; o DIU não é tão fácil de conseguir pela rede pública e a camisinha pode estourar.
Para quem não deseja correr riscos, a laqueadura é o método mais eficaz.
Por eliminar as chances de gravidez, o processo não costuma ser tão bem visto pela sociedade.
Mulheres que desejam fazer laqueadura costumam ser vítimas de preconceito.
Mas por que ainda temos uma visão tão discriminatória com essa população que não deseja ter filhos?
Neste post, você vai saber:
- O que é laqueadura;
- Sua eficácia;
- Por que mulheres que passaram pelo procedimento são vistas com preconceito.
Vamos lá!
O que é laqueadura?
Também chamada de ligadura, a laqueadura de trompas é um método contraceptivo voluntário que retira por completo as chances de gravidez.
Em um processo cirúrgico, as trompas (ou tubas, prolongamentos que conectam o útero aos ovários) uterinas são bloqueadas, ligadas ou cortadas.
Dessa forma, os espermatozoides (que chegam pelo canal vaginal e útero) não têm como alcançar os óvulos (que saem dos ovários).
Enfim, é uma cirurgia simples, feita por ginecologistas em ambiente hospitalar e dura cerca de 40 minutos.
É possível fazer a laqueadura pelo Sistema Único de Saúde?
Sim. Esse direito é garantido pela Lei nº 9.263/96, chamada de Lei do Planejamento Familiar.
Quais são os tipos de laqueadura?
A cirurgia pode ser feita por duas vias:
- Laparotômica: feita com uma incisão grande, semelhante a uma cesárea, é o método mais comum no SUS;
- Laparoscópica: feita com o auxílio de uma minicâmera inserida no interior do abdômen e três pequenas incisões.
Quem é apta a passar pelo procedimento?
De acordo com a Lei do Planejamento Familiar, estão aptas à laqueadura:
- Mulheres com mais de 25 anos;
- Mulheres maiores de 18 anos e com pelo menos dois filhos, desde que o segundo não seja aquele que está para nascer. Esse detalhe impede que a laqueadura seja feita na hora do parto. Ela pode ser feita no terceiro parto, mas não no segundo.
Porém, a principal indicação da cirurgia é para quem apresenta risco de saúde, tanto para ela quanto para o bebê, caso engravide.
Se caso seja casada, o consentimento deve ser mútuo, ou seja, o marido também deve permitir que a mulher faça a laqueadura, com reconhecimento de firma no cartório.
No entanto, o homem casado que deseja fazer uma vasectomia também precisa da autorização da esposa.
Assim como nos casos em que a mulher é solteira, viúva, separada ou divorciada, é necessário levar uma testemunha que comprove seu desejo de se submeter à cirurgia.
Decisão
A decisão só pode ser tomada depois de uma boa conversa com o médico e uma equipe multidisciplinar, para ter certeza de que a laqueadura é a melhor opção, já que a cirurgia de reversão é muito complexa.
Da mesma forma, para que uma reversão possa ser feita, existem algumas condições:
- O final das trompas precisa ter sido preservado quando foi feita a laqueadura;
- A tuba uterina não pode estar doente ou dilatada.
Essa cirurgia é realizada por laparoscopia — a criação de pequenas incisões para a inserção de instrumentos, além do auxílio da microcâmera.
Nesse caso, a confirmação do retorno da fertilidade acontece em 30 dias. No entanto, as chances da mulher engravidar diminuem em 20%.
É por isso que a lei estabelece que entre a manifestação de interesse em fazer uma laqueadura pelo SUS e a sua realização, o espaço de tempo deve ser de pelo menos 60 dias.
A intenção é que o casal entenda sobre outros métodos contraceptivos, os riscos da cirurgia, além dos prós e contras de escolher esse método.
Como é o processo para fazer a cirurgia?
A mulher que deseja fazer a cirurgia deve procurar a unidade básica de saúde (UBS) de sua região e manifestar seu desejo.
A partir daí, ela (e, se houver, seu cônjuge) será encaminhada para algumas reuniões sobre planejamento familiar e terá conhecimento sobre outros métodos contraceptivos que, diferentemente da laqueadura, são totalmente reversíveis.
Depois disso, passará por uma equipe multidisciplinar composta por psicóloga, médicos e assistente social.
Eles vão novamente questionar o desejo de passar pela laqueadura e informar que o método é irreversível, pois muitas mulheres não sabem.
Afinal, a cirurgia de reversão tentará reunir as trompas, mas não terá como desfazer o processo.
É por isso que a lei estabeleceu o chamado “tempo de reflexão” para que a mulher pense bastante antes de assinar a papelada necessária e começa os trâmites de encaminhamento.
Se ela quiser desistir durante esse período, terá todo o direito.
O tempo até a cirurgia varia bastante, porque depende de vários fatores, como disponibilidade dos grupos de planejamento familiar, de leitos hospitalares e de médicos.
A laqueadura é realmente eficaz?
Sim. Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a taxa de eficácia da laqueadura é de 99%.
Além disso, a porcentagem de reversão espontânea do procedimento é muito pequena — de 0,5 a 1%.
Aliás , o risco de gravidez, por intermédio da técnica francesa de Pomeroy, que amarra e corta as trompas, é a mais utilizada no Brasil.
Nesse caso, o risco é de um em 2 mil, enquanto o da pílula anticoncepcional é de dois ou três para cada cem mulheres.
Por fim, dependendo das condições das trompas, a cirurgia de reversão pode não ser possível, o que inviabiliza de vez as chances de uma gestação.
Como é a recuperação da cirurgia?
Geralmente, a mulher pode ir para casa no mesmo dia, assim que passam os efeitos anestésicos. No entanto, é necessário contar com um acompanhante.
Nos primeiros cinco dias, a mulher deve repousar e evitar tarefas que envolvam pegar peso, fazer muito esforço e que exijam muita coordenação, como dirigir.
Já as relações sexuais podem ser retomadas quando ela se sentir confortável.
A dor abdominal, como cólica e o sangramento vaginal discreto são comuns nos primeiros cinco dias.
Por que é tão difícil conseguir uma laqueadura?
Porque, ao contrário de todos os outros métodos, a laqueadura é irreversível.
Resumindo: se você se arrepender, não terá como gerar filhos, a não ser que faça outra cirurgia para religar as trompas — e mesmo assim não há 100% de porcentagem de sucesso.
No entanto, mesmo métodos reversíveis, como o DIU, são extremamente difíceis de se conseguir pela rede pública.
Além disso, muitas mulheres são desencorajadas pelos seus médicos a colocar o dispositivo intrauterino.
Então, mesmo que a mulher deseje reverter futuramente, por que ela é tão julgada ao fazer uma escolha sobre seu próprio corpo?
Machismo
Em parte, por causa do machismo ainda presente na sociedade.
Você reparou que a Lei do Planejamento só permite que a mulher casada faça laqueadura se o marido também consentir?
Ou seja, ela deve pedir autorização a um homem sobre aquilo que deseja fazer com seu próprio corpo, mesmo que ela vá pagar uma cirurgia de reversão caso mude de ideia e deseje gerar um filho.
Porém, outro aspecto social é o pensamento já enraizado de que mulheres nasceram para ser mães, como algo inerente ao indivíduo.
Portanto, optar pela laqueadura seria ir contra a sua natureza materna.
Há também o pensamento de que mulheres que não desejam ter filhos são vazias, egoístas e estão impedindo o homem de realizar o desejo de ser pai.
Arrependimento
Outro problema que pode surgir é o arrependimento pós-laqueadura. Embora possa acontecer, estudos mostram que o número é ínfimo.
Além do mais, um fator que pode contribuir para o arrependimento é a troca de parceiros.
A mulher tem filhos com um indivíduo e decide fazer uma laqueadura.
Como resultado, ao começar um relacionamento com um novo parceiro, este pode desejar a gestação de um filho do casal, o que costuma balançar a mulher.
Desinformação
Há relatos de mulheres que ouviram que não estão aptas ao procedimento mesmo atendendo a todos os requisitos, ou que a lei tinha sido extinta.
Além disso, alguns profissionais de saúde dão informações incorretas às pacientes para desencorajá-las.
Má vontade do parceiro
A vasectomia é uma cirurgia bem mais simples e até mais eficaz. Pode ser feita no ambulatório, sem necessidade de internação e requer somente anestesia local.
Porém, sofre com a limitação de vagas e, principalmente, na recusa e preconceito dos parceiros.
Além de tudo, infelizmente, para a mulher, é muito difícil contar com a proteção vinda do homem.
Conclusão
Como você viu, é sim possível fazer uma laqueadura pelo SUS.
De fato, o método é quase 100% eficaz. Porém, caso a mulher se arrependa, a cirurgia de reversão pode ser complexa ou até mesmo impossível, dependendo do caso. Portanto, vale pensar bastante a respeito.
Se você não deseja ter filhos, leia bastante sobre os outros métodos anticoncepcionais e analise se algum deles pode satisfazer suas necessidades.
Caso contrário, entre em contato com a UBS mais próxima da sua casa e preste atenção em todas as informações passadas pelos profissionais de saúde.
Também observe o que é determinado pela lei, para que não receba informações desencontradas e incorretas.
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Beijo!